Entrevista com Fátima Aparecida da Silva
A força do basquete como instrumento de transformação
Com uma trajetória marcada pela superação, dedicação e compromisso com a transformação social através do esporte, Fátima Aparecida da Silva é referência quando se fala em arbitragem de basquete no Brasil. Professora de formação, árbitra oficial de quadra e mesa formada pela Federação Paulista de Basketball, ela também atua como oficial de mesa da FIBA e instrutora técnica, promovendo treinamentos e palestras para jovens atletas e equipes profissionais.
Mais do que uma especialista em regras, Fátima é uma educadora do esporte. Sua vivência carrega a força resiliente do povo brasileiro e inspira atletas, treinadores e comunidades inteiras. Em parceria com projetos que fortalecem a base do esporte — como a LojaDoTreinador, especializada em equipamentos para performance, recuperação e análise técnica —, ela vem colaborando diretamente com o desenvolvimento físico e emocional de quem vive o basquete.
Nesta entrevista, conhecemos um pouco mais sobre a história dessa mulher que faz do esporte uma ponte para a inclusão, o empoderamento e a excelência profissional.
LT: Qual foi o ponto de partida da sua trajetória no basquete e o que te motivou a seguir a carreira de árbitra?
FAS: Inicialmente, foi minha mãe, Maria Apparecida da Silva (in memorian), que tinha como grande ídolo Sr. Wlamir Marques. Depois comecei a praticar na escola (EE.Godofredo Furtado) e posteriormente, em clubes de São Paulo (CEE Ibirapuera, Centro Olímpico de Treinamento e Esportivo, Associação A Hebraica de São Paulo e Osasco Clube). Quando estava num jogo, escutei os Oficiais conversando sobre o Curso de Arbitragem da FPB e me interessei, pois já estava na Faculdade de Educação Física. E assim começa minha nova vida dentro do basketball.
LT: Fátima, sua trajetória no basquete é inspiradora, passando por professora, árbitra oficial e hoje também como Delegada Técnica da FIBA. Como foi esse caminho até aqui e o que representa, para você, o esporte como ferramenta de transformação social?
FAS: Desde pequena, minha mãe sempre me incentivou a estudar e a brincar e praticar atividades físicas com os amigos da rua que morava. No ensino médio, formei-me professora no antigo Curso de Magistério e depois graduei-me na FEFISA – no curso de Educação Física. No segmento da arbitragem, iniciei como Oficial de Mesa, passei para Oficial de Quadra (chegando a categoria Internacional), capacitei-me como Instrutora da F.P.B. depois Comissária Técnica e atualmente Delegada Técnica.
LT: Como Delegada Técnica da FIBA, você acompanha de perto a evolução do esporte em diferentes níveis. Quais são os principais desafios e oportunidades que você enxerga para o basquete brasileiro crescer de forma mais inclusiva e transformadora?
FAS: Entre os principais desafios, destaco:
- Desigualdade de acesso: Ainda temos uma grande concentração de projetos e oportunidades nas capitais ou grandes centros urbanos
- Falta de investimento contínuo: Muitos projetos sociais e de base enfrentam dificuldades para se manter a longo prazo por ausência de patrocínio e políticas públicas consistentes e com planos de continuidade em gestões seguintes.
- Representatividade e equidade: Precisamos ampliar a participação de mulheres, pessoas negras, indígenas e de outras minorias, não só como atletas, mas também em cargos técnicos, de gestão e na arbitragem. Ampliar o funil de entrada, olhando mais para o SER HUMANO, a fim de conectar histórias e obter maior representatividade, quando chegarmos ao alto rendimento
Por outro lado, há algumas oportunidades, também:
- Projetos sociais transformadores: O basquete tem um poder incrível de inclusão e educação. Quando bem estruturado, um projeto esportivo pode mudar trajetórias de vida e formar cidadãos.
- Tecnologia e comunicação: Hoje, com redes sociais e plataformas digitais, é possível dar visibilidade a talentos locais, promover competições alternativas e criar redes de apoio, mesmo com poucos recursos.
- Formação e capacitação: Temos cada vez mais profissionais comprometidos com o desenvolvimento do basquete em suas comunidades. Se investirmos em formação continuada, teremos multiplicadores que farão a diferença em todo o país.
Para que o basquete brasileiro cresça de forma inclusiva e transformadora, é essencial unir diagnósticos precisos, metas SMART e governança transparente. O sucesso virá quando conseguirmos traduzir esses indicadores em histórias de superação e desenvolvimento comunitário, reforçando o papel social do esporte.
LT: Sabemos que você promove treinamentos e palestras para jovens e profissionais da área. Que tipo de transformação você já testemunhou na vida das pessoas que participaram dessas atividades? E como você vê o papel do basquete nesse processo?
FAS: O esporte é uma ferramenta extraordinária e há um ecossistema, que nos permite trabalhar em diferentes aspectos, quer na base, quanto no alto rendimento; nas escolas e instituições sociais, etc. Há anos faço parte do quadro de Instrutores da F.P.B. e várias pessoas passaram pelos Cursos de Arbitragem, com um público variadíssimo e contamos com aqueles que deram sequência no trabalho, atingindo as diferentes categorias (Regional, Nacional e Internacional). Como empreendedora, em 2017, iniciamos o PAES (Projeto de Arbitragem Esportivo Solidário), visando dar sustentabilidade aos Projetos Sociais e através dele alguns oficiais deram seus primeiros passos e hoje, estão no Quadro de Oficiais da Federação Paulista de Basketball. Com as Palestras, nas escolas e instituições, levo o conceito que “SONHAR É BOM e REALIZAR O SONHO É INDISCRITÍVEL” e depois encontramos relatos e devolutivas superpositivas.
LT: A parceria com a Loja Do Treinador tem sido um recurso técnico importante para equipes e profissionais. Na sua experiência, como esses equipamentos e soluções de preparação física e análise de performance têm contribuído para elevar o nível dos treinamentos e fortalecer a base do esporte?
FAS: Com toda certeza, pois como profissionais, encontramos o que necessitamos em um só local. A parceria com a Loja do Treinador tem proporcionado avanços significativos ao oferecer ferramentas modernas que potencializam a qualidade dos treinamentos. Na prática, os equipamentos e soluções de análise de performance permitem maior precisão na avaliação, promovem treinos mais personalizados e seguros, e contribuem diretamente para o desenvolvimento técnico e físico, fortalecendo a base esportiva com mais ciência, eficiência e resultados sustentáveis, quer sejam para os atletas e/ ou para os Oficiais de Quadra, que precisam estar sempre preparados.
LT: Você estudou arbitragem oficial na Federação Paulista de Basketball. Como foi esse período de formação e o que ele representou no seu desenvolvimento pessoal e profissional?
FAS: Realizei dois cursos na F.P.B. Época áurea do basketball, acompanhei vários jogos e aprendi com os Oficiais de Quadra e Mesa da época. Tendo como mentor dos instrutores Sr. Getúlio Coelho. No primeiro Curso de Arbitragem, meu instrutor foi o Sr. Antônio Carlos Affini e formei-me como Oficial de Mesa e um ano depois, voltei para um novo Curso, com o instrutor Sr. Geraldo Miguel Fontana e desta vez, conclui como Oficial de Quadra. Em ambos passávamos pela Regras Oficiais de Basketball e Mecânica de Arbitragem, aprendendo sobre sinalização e movimentação dentro da quadra. Sendo minha inspiração: Elisabete Ferraciolli. A arbitragem transformou minha vida, pois pude conhecer muito lugares e conectar-me com pessoas e culturas a mais diversas possíveis e ainda continuo sendo abençoada .
LT: Quais foram os maiores desafios que você enfrentou como mulher no esporte e como superou essas barreiras?
FAS: Nos anos 80 e 90, as mulheres enfrentavam inúmeros obstáculos para conquistar seu lugar no esporte, especialmente em funções de liderança e arbitragem. Sofremos preconceito, não apenas pela presença em um espaço majoritariamente masculino, mas também pela constante necessidade de provar nossa competência. Com o tempo e o fortalecimento do nosso grupo, mostramos que a arbitragem vai muito além de questões de gênero — trata-se de capacidade técnica, ética e profissionalismo. Nossa trajetória foi marcada por resistência, excelência e conquista de respeito e isto nos fortaleceu para crescermos enquanto SERES HUMANO e profissionalmente
LT: De que forma o basquete mudou sua vida pessoal e te conectou com o propósito de transformar outras vidas?
FAS: A arbitragem transformou minha vida, pois conheci muito lugares e conectar-me com pessoas, culturas e lugares, os mais diversos possíveis e ainda continuo sendo abençoada, com conquistas e realização de sonhos profissionais e pessoais, como por exemplo: Jogos Olímpicos (2008 e 2016), Campeonatos Mundiais, Jogos Pan Americanos etc. Com tantas experiências e vivências, gradativamente, fui aprendendo a unir o binômio E & E – Educação e o Esporte, ferramentas que proporcionam oportunidades de crescimento e transformação e, portanto, deveriam contar com maior incentivo de todos os órgãos (públicos e/ ou privados). No segmento da arbitragem, ao tornar-me instrutora, viso compartilhar meu conhecimento, auxiliando as pessoas a concluírem os Cursos de Arbitragem e a ingressarem neste universo, mantendo o basketball vivo, pois todos os seus pilares, seguem crescendo (Atletas/ Técnicos e Comissões Técnicas/ Equipe de Arbitragem e Gestores – Pais e Familiares).
LT: Por fim, quem é a Fátima além das quadras? O que te move todos os dias a continuar contribuindo com o basquete e com o desenvolvimento humano por meio do esporte? Conte um pouco sobre a sua rotina se ficar a vontade. Você se considera uma pessoa organizada? Como é o seu dia a dia?
FAS: Além das quadras, sou uma pessoa organizada, sócia-fundadora da FFF Cia de Eventos Esportivos, empresa voltada à formação e capacitação de profissionais da arbitragem e educação física. Atualmente sou a tesoureira da ARBBRA (Associação de Oficiais de Basquetebol do Brasil), com objetivo de contribuir para o fortalecimento da arbitragem no país. Sou uma defensora da equidade em todos os aspectos no esporte, tratando cada um conforme suas necessidades e realidades. Acredito que este olhar mais sensível e transformador, para o Ser Humano, torna o esporte uma verdadeira ferramenta de inclusão e mudança social. Viso trabalhar e inspirar novas gerações a acreditarem que competência e profissionalismo são os verdadeiros critérios de excelência. Diariamente, gosto de ler, escutar músicas (MPB), praticar exercícios físicos, visando a qualidade de vida e realizar minhas atividades diárias, quer esteja em casa ou quando estou nos Cursos de Arbitragem, Palestras e/ou eventos da FIBA.
A trajetória de Fátima Silva é mais do que uma sequência de conquistas: é a prova viva de que o esporte é uma força capaz de construir cidadãos, transformar destinos e renovar comunidades inteiras. Com paixão, técnica e propósito, Fátima não apenas rompeu barreiras — ela abriu caminhos para novas gerações.
Cada treino, cada palestra e cada projeto que ela lidera carregam o compromisso com um esporte mais humano, inclusivo e acessível. Sua história nos lembra que o verdadeiro legado esportivo não se mede em troféus ou medalhas, mas nas vidas tocadas, nos sonhos realizados e na transformação silenciosa que acontece onde há educação, oportunidade e inspiração.
Ao unir dedicação, inovação e sensibilidade social, Fátima Silva nos mostra que, quando o esporte encontra seu verdadeiro propósito, ele não apenas forma campeões — ele forma seres humanos melhores.